Na
promessa de Deus, na Aliança da Graça, de ser o nosso Deus, estão implícitos inumeráveis
benefícios. Entre os quatro que se destacam, o terceiro é: Conformidade com
Deus por meio da participação na natureza divina e transformação à sua imagem.
Devemos,
em terceiro lugar, enfatizar que Deus é nosso com respeito à conformidade.
Visto não estar ele satisfeito em derramar sobre nós os efeitos salutares de
suas propriedades ou atributos, mas deseja imprimir ainda mais em nós sua marca
e semelhança, pelo menos até onde a criatura finita pode suportar, para que
sejamos “coparticipantes da natureza divina” (2 Pedro 1.4) e nos adequarmos a
ela, posto que é o mais perfeito modo de comunhão.
Como
o sol, que envia seus raios a um cristal ou a algum corpo transparente, o faz
translúcido ao ponto de brilhar como o sol, assim o Pai das luzes nos ilumina
com sua luz, não apenas para dispersar as trevas do erro, do vício e da
miséria, mas também para nos comunicar sua luz e nos fazer brilhar como outros
tantos sóis. Por isso lemos que “Os justos resplandecerão como o sol, no reino
de seu Pai (Mateus 13.43).
As
palavras de Paulo indicam a mesma coisa quando ele diz que “Todos nós, com o
rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos
transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o
Espírito” (2 Coríntios 3.18). E o apóstolo João, “Amados, agora somos filhos de
Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele
se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”
(1 João 3.2), isto é, nenhuma comunhão pode haver com Deus exceto com base na
conformidade com ele.
A
conformidade com Deus é dupla, em santidade e virtudes morais, para que sejamos
santos, justos, pacientes, misericordiosos e perfeitos como Deus é (Mateus
5.48; 1 Pedro 1.15), e em vida e felicidade, para que desfrutemos de sua
imortalidade e glória, “porque eu vivo, vós também vivereis” (João 14.19); e
“Tu, porém, és sempre o mesmo, e os teus anos jamais terão fim. Os filhos dos
teus servos habitarão seguros, e diante de ti se estabelecerá a sua
descendência” (Salmo 102.27-28).
O argumento de Cristo é imbatível aqui, quando ele, usando a fórmula da
aliança, demonstrou a imortalidade da alma e a ressurreição do corpo contra os
saduceus, porque ele é chamado de “o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus
de Jacó” (Mateus 22.32), mesmo depois da morte destes. Portanto, “ele não é
Deus de mortos, e sim de vivos” (Mateus 22.32). Duas coisas são necessariamente
opostas aqui: primeira, que esta fórmula da aliança implica numa comunicação de
vida e imortalidade, de modo que todos que são recebidos à comunhão dela se
tornam como ele neste particular – o Deus que vive para sempre não pode ter
comunhão com os mortos. Segunda, a aliança não foi feita com apenas uma parte
do homem, mas com o homem todo, de modo que seus benefícios pertencem ao homem
como um todo. Daí vem a necessidade da ressurreição do corpo, para que os crentes
venham a ser participantes, em alma e corpo, da vida e da felicidade eternas.