segunda-feira, 17 de março de 2014

O Encardido


             “Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus.” (2 Coríntios 7.1)
            Todos nós já ouvimos histórias de crianças abandonadas, crianças que foram morar nas ruas, e que um dia foram adotadas por uma família ou recolhidas em uma instituição.
            Imaginemos uma dessas crianças. Ela não tem lar, mora com outras crianças, alimenta-se do que encontra no lixo, ou do que lhe dão. Dorme sobre jornais, cobre-se com um cobertor em farrapos, em um cantinho da rua. Certamente não cuida de sua higiene pessoal – não toma banho, não troca de roupa, não se penteia nem escova os dentes. Talvez nem mesmo saiba o que sejam esses cuidados. Vivendo pelas ruas, em contato com todo tipo de males, ela absorve vícios e impurezas próprios de uma vida assim.
            Contudo, certo dia, essa criança é adotada por um casal. Chega a sua nova casa imunda, descalça, cheirando mal, com roupas sujas e rasgadas e o cabelo comprido e embaraçado. A primeira coisa que sua mãe adotiva faz é tirar-lhe as roupas imprestáveis e colocá-la debaixo de um chuveiro ou numa banheira. Haja sabonete, xampu, água quente e bucha! Esse primeiro banho precisa ser demorado e minucioso. A mãe irá esfregar bem todo o seu corpo, da cabeça aos pés. Esse primeiro banho é de grande importância para que a criança entre para a família e conviva com ela. É um banho histórico.
            Terminado o banho, a criança, agora limpa e enxuta, veste roupas adequadas e limpas. Seu cabelo é cortado e penteado; as unhas, cortadas, e os dentes, escovados. Agora ela está pronta para começar uma nova vida, em uma nova casa com pais, irmãos, amigos e parentes, dos quais recebe atenção e carinho.
            Passada a euforia da chegada na casa e do primeiro banho, a mãe adotiva observa algumas manchas atrás da orelha, uma sujeira encardida, agarrada à pele da criança. No banho seguinte, ela esfrega mais forte e demoradamente aquele lugar, até remover o encardido. Seguramente a pele ficou um pouco irritada e a criança não gostou muito, mas a mãe se dá por satisfeita. Dias depois, descobre outro encardido, desta vez nos joelhos. Repete o mesmo processo doloroso até retirar o encardido. Mais adiante, outras manchas se revelam: nos calcanhares, nos tornozelos, na nuca e etc. Novamente, com todo zelo, a mãe se empenha por removê-las, até que finalmente a criança está totalmente livre dos encardidos. A partir de então a mãe cuidará apenas da poeira do dia-a-dia.
            Essa história assemelha-se à nossa história. No dia em que fomos salvos e entramos para a família de Deus, sendo adotados por ele, tomamos um “belo banho”. Fomos lavados da sujeira do pecado, a qual havia se acumulado por vários anos. Neste primeiro e histórico banho, nos arrependemos de nossa vida de pecados, de nossa rebeldia contra Deus e recebemos o perdão do Pai celeste. Abandonamos a vida de apego ao pecado, renunciamos ao erro e fomos lavados da sujeira. Tivemos nossas roupas sujas e rotas jogadas fora e recebemos uma nova roupa – a justiça de Cristo. Nesse dia, limpos pelo sangue de Cristo, nos sentimos leves, limpos, seguros e em paz com Deus.
            Entretanto, à medida que os dias passam, ao nos colocarmos diante do espelho da Palavra de Deus, observamos certas manchas não removidas pelo primeiro banho. São encardidos em nosso caráter, em nossa personalidade, em nossa conduta e em nossos hábitos que ficaram agarrados a nós. Esses encardidos precisarão de uma atenção especial. São hábitos impuros, vícios mentais, maneiras erradas de reagir a determinadas situações, sentimentos de cobiça, inveja, ganância e etc. Estavam escondidos debaixo da sujeira geral, mas que agora começam a ser percebidos. O Espírito Santo, mediante a Escritura, os revela e mostra que precisam ser removidos. Nosso Pai celestial deseja remover esses encardidos, e o faz dando-nos um banho mais específico, esfregando mais forte e demoradamente aquele lugar (Hebreus 12.4-7).
            De nossa parte, precisamos reconhecer os encardidos, confessá-los em arrependimento, tomar a decisão de renunciar a tal prática ou atitude e pedir ao nosso Pai que esfregue até remover por completo o encardido, mesmo que isso nos faça sofrer um pouco. Certamente a alegria da purificação será infinitamente superior à dor da limpeza.