Ao
ler os evangelhos, você já observou como o número de seguidores de Jesus foi
diminuindo à medida que ele se aproximava mais e mais da cruz? No Evangelho de
João, lemos a seguinte informação: “À vista disso, muitos dos seus discípulos o
abandonaram e já não andavam com ele” (João 6.66). E, quando a sombra da cruz
se tornou mais terrível e ameaçadora, até mesmo os discípulos mais chegados o
deixaram, ficando apenas aquele que o negara, mas seguindo-o de longe (Mateus
26.56-58). O medo da cruz assombrou os discípulos da mesma forma que a ideia de
morrer aterroriza os homens, hoje. O impulso de autopreservação foi mais forte
que o chamado para perseverar com cristo até ao fim.
Esse
mesmo medo impede que muitos, hoje, vivam uma vida cristã comprometida com
Cristo. Medo do que possa acontecer ao seu cônjuge, aos seus filhos ou a si
mesmo. Pessoas que valorizam mais a autopreservação que o compromisso com
Cristo e a obediência a Deus, consideram fanáticos ou irresponsáveis aqueles que
assumem tal compromisso de vida, por amor a Cristo. Porém, de fato, os cristãos
comprometidos não são nem uma coisa nem outra. São apenas pessoas que negaram a
si mesmas e que descobriram que Cristo guarda todos aqueles que se entregam a
ele, onde quer que estejam.
Jesus
ensinou que, para sermos seus discípulos, é essencial que nos neguemos a nós
mesmos, tomemos sua cruz e o sigamos. O cumprimento dessa ordem exige de nós a
decisão de abraçar um tipo de vida comprometida, o que pode, talvez, levar a
sofrimentos. O fato de recebermos essa ordem, porém, não significa que tenhamos
de cultivar um complexo de mártir, ou de buscar o sofrimento. São ou outros que
nos crucificam. Não precisamos nos preocupar em ver quem vem a nós segurando o
martelo, os cravos e os espinhos para confeccionar a coroa. Sempre haverá
alguém disposto a fazer isso. Mesmo entre aqueles que se dizem crentes. Algumas
das marteladas mais dolorosas podem vir de amigos, tal como aconteceu com Jesus
“Até o meu amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou
contra mim o calcanhar” (Salmo 41.9).
Contudo,
apesar de tudo, nosso problema não são os amigos, nem os inimigos; somos nós
mesmos em nossa condição de seres caídos. É essa moléstia adâmica da autopreservação,
do fugir da cruz e do sofrimento a todo custo. Nós gostamos da tranquilidade,
do prazer e do alívio da dor. Gostaríamos de ir para o céu sentados em uma poltrona
macia. Nesse aspecto, os dias atuais não nos ajudam em nada. Pelo contrário, intensifica
nossa aflição. Parece que somos incapazes de optar por um tipo de vida que
possa nos trazer algum incômodo. Como poderemos participar dos “sofrimentos
como bom soldado de Cristo”, se o que mais queremos é andar “à vontade em
Sião”?
Infelizmente
a cura dessa moléstia está exatamente onde não queremos, em nos rendermos
àquilo de que temos medo. É sofrendo que aniquilamos o medo de sofrer.
Negando-nos a nós mesmos vencemos o pecado da autopreservação. As experiências
que nos atemorizam são o remédio com que somos curados.
Tentemos fazer a
seguinte oração: “Senhor, rendo-me à cruz. Pela tua graça e com a tua ajuda,
entrego-me a ti para realizardes em mim o teu plano para a minha vida. Assumo
um compromisso de vida contigo.”