Marcos
registra em seu Evangelho que, depois de escolher seus doze discípulos
(3.13-19) e de passar quase um dia todo ensinando numerosa multidão à beira-mar
(4.1-32), Jesus convidou os discípulos a atravessar o Mar da Galileia (4.35). A
leitura dos versículos seguintes (36-41), que descrevem a tempestade enfrentada
por eles, suscita três observações.
A
primeira é que Jesus não evita passar com seus discípulos pela tempestade. As
tempestades no Mar da Galileia são repentinas e violentas. Isto se dá porque
ele encontra-se 213 m. abaixo do nível do mar, está cercado por altas montanhas
e forma um vale profundo. Normalmente o vento forte passa por cima das
montanhas, porém, ocasionalmente, o vento afunila-se por entre as montanhas e
passam por dentro do vale, resultando em tempestade. Sendo Deus, conhecedor de
todas as coisas, Jesus sabia que naquele dia, durante a travessia, se
levantaria “um grande temporal de vento”, contudo o Senhor não cancela nem adia
a viagem, nem segue por outro caminho a fim de evitá-la. Antes, entra num barco
com seus discípulos e inicia a travessia, sendo seguido por outros barcos.
A
segunda é que Jesus, mesmo em meio à tempestade, descansa tranquilamente sobre
um travesseiro. Marcos propositadamente emprega a palavra “dormindo”. Ele o faz
não para indicar desprezo por parte de Jesus em relação a tempestade ou ao
perigo que os discípulos corriam, antes seu propósito é enfatizar, em primeiro
lugar, a humanidade de Jesus (que devia estar exausto após ensinar a multidão
por quase um dia todo), e, em segundo lugar, sua tranqüila confiança em Deus e
em sua Palavra (apesar “da tempestade de vento e das ondas que se arremessavam
contra o barco”, Jesus dormia). O Senhor podia descansar tranquilamente porque
Deus, seu Pai, estava no controle de todos os eventos (Daniel 2.20-22), cuidava
dele (Isaías 42.1-7) e prometera que nada lhe aconteceria (Salmo 91.9-13).
A
terceira é que Jesus usa a tempestade para ensinar seus discípulos acerca da
fé. Ao ser despertado, pelos discípulos, Jesus aquieta a tempestade e acalma o
mar. A narrativa de Marcos revela um duplo propósito: realçar a divindade de
Jesus, pois “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?”; e ensinar aos
discípulos acerca da fé prática. Ou seja, ensinar que fé é confiança em Deus e
em sua Palavra, confiança no que Deus é e no que ele diz; e ensinar que fé é
uma ação corajosa de confiança em Deus apesar das circunstâncias.
Ainda hoje Jesus
convida seus discípulos a atravessar o mar. Ele sabe se e quando a tempestade
se levantará. Algumas vezes ele evita que passem por ela, outras, não. Seja
como for, sua atitude é sempre a mesma – descanso confiante – e seu propósito
também – ensinar acerca da fé prática.
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