segunda-feira, 19 de maio de 2014

Tríplice Aspecto da Verdadeira Liberdade


            O salvo em Cristo Jesus é uma pessoa livre, pois “Ele nos libertou do império das trevas”, e é uma pessoa responsável, pois ele “nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1.13). Por isso, o exercício da verdadeira liberdade também envolve responsabilidade. Deus, em Cristo, nos libertou da escravidão do pecado, mas também nos dá a ordem de vivermos como pessoas livres. Ele ordena: “Para a liberdade foi que cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão” (Gálatas 5.1), e “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém, não useis da liberdade para dar ocasião à carne” (Gálatas 5.13a).
            Em virtude dessas considerações, A. Hoekema afirma, “Não podemos viver como homens e mulheres livres sem a ajuda de Deus, não obstante, porém, estamos obrigados a viver assim. Nossa verdadeira liberdade não é somente um dom; é também uma tarefa.” E João Calvino, estudando a liberdade cristã, distingue três aspectos da verdadeira liberdade, a saber, (1) liberdade da necessidade de guardar a lei de Deus a fim de obter-se a salvação; (2) liberdade para obedecer a lei de Deus voluntariamente, por gratidão; e (3) liberdade com respeito às coisas exteriores que, em si mesmas, são indiferentes. A primeira e a terceira são liberdades de certas coisas, enquanto que a segunda é liberdade para algo diferente. Apresentaremos brevemente a primeira e a terceira, depois, a segunda.
            A verdadeira liberdade é a liberdade da necessidade de guardar a lei de Deus a fim de obter-se a salvação. Esse é o tema principal da carta aos Gálatas e dos capítulos 3 e 4 da carta aos Romanos. Essas ensinam que ninguém pode ser salvo ou justificado diante de Deus pela observância da lei, visto que ninguém consegue guardar a lei de Deus de modo perfeito; portanto, o único meio de alguém ser justificado diante de Deus é por intermédio de Cristo, que obedeceu a lei perfeitamente por nós (Gálatas 2.16; Romanos 3.28).
            A verdadeira liberdade é a liberdade com respeito às coisas exteriores que, em si mesmas, são indiferentes. Ou seja, inclui a liberdade da escravidão às regras no tocante a coisas que, em si mesmas, não são pecaminosas porque deus não as ordena nem as proíbe; coisas que, embora possas parecer pecaminosas sob certas circunstâncias, não são pecaminosas em si mesmas. São assuntos sobre os quais, algumas vezes, igrejas elaboram regras e obrigam seus membros a observá-las como prova de comunhão ou emblema de verdadeiro cristão (Gálatas 4.9-10; 5.2-6; Colossenses 2.10-23). Falando sobre esse assunto, Calvino diz que no tocante a essa parte da liberdade cristã “não estamos obrigados perante Deus por causa de quaisquer convenções religiosas que ora nos oprimem e ora nos proíbem de fazer uso delas, seja o que for”. Esse legalismo traz consigo dois perigos: o passar a acreditar-se que a abstinência dessas “coisas indiferentes” seja a marca essencial de um cristão; e a limitação ao crescimento da igreja por se formar uma crosta dura e áspera ao redor do grupo aceito. Citando 1 Coríntios 10.23, Calvino apresenta o verdadeiro uso da liberdade cristã, dizendo: “Nada é mais claro do que esta regra: que devemos usar nossa liberdade se ela resulta na edificação de nosso próximo, mas se ela não beneficia o nosso próximo, devemos, neste caso, abrir mão dela”.
            A verdadeira liberdade é liberdade para obedecer a lei de Deus, por gratidão. Ou, colocando de outro modo, a liberdade de fazer a vontade de Deus livre e voluntariamente, como um modo de demonstrar gratidão a ele pela salvação. A verdadeira liberdade não é apenas liberdade de, mas também liberdade para. O salvo é transportado para o reino do Filho de Deus, a fim de ser servo a serviço de seu Rei (Romanos 6.12-13, 16-23; Colossenses 1.13). O salvo recebe o espírito de adoção (Romanos 8.15), que o faz andar nos estatutos de Deus, guardar seus juízos e observá-los (Ezequiel 36.26-27). Portanto, a verdadeira liberdade não é contrária à lei de Deus. Ao contrário, a verdadeira liberdade consiste em obedecer alegre, voluntária e gratamente a lei de Deus (Salmo 1.2; 19.10; Tiago 1.25; 2.12).
            O Senhor, nosso Deus, nos libertou em Cristo Jesus. Permaneçamos firmes nessa verdadeira liberdade, e não a usemos para dar ocasião à natureza pecaminosa e nos colocarmos, novamente, sob escravidão.

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