O salvo em Cristo Jesus é uma pessoa livre, pois “Ele nos libertou do império das trevas”, e é uma pessoa responsável, pois ele “nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1.13). Por isso, o exercício da verdadeira liberdade também envolve responsabilidade. Deus, em Cristo, nos libertou da escravidão do pecado, mas também nos dá a ordem de vivermos como pessoas livres. Ele ordena: “Para a liberdade foi que cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão” (Gálatas 5.1), e “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém, não useis da liberdade para dar ocasião à carne” (Gálatas 5.13a).
Em
virtude dessas considerações, A. Hoekema afirma, “Não podemos viver como homens
e mulheres livres sem a ajuda de Deus, não obstante, porém, estamos obrigados a
viver assim. Nossa verdadeira liberdade não é somente um dom; é também uma
tarefa.” E João Calvino, estudando a liberdade cristã, distingue três aspectos
da verdadeira liberdade, a saber, (1) liberdade da necessidade de guardar a lei
de Deus a fim de obter-se a salvação; (2) liberdade para obedecer a lei de Deus
voluntariamente, por gratidão; e (3) liberdade com respeito às coisas
exteriores que, em si mesmas, são indiferentes. A primeira e a terceira são
liberdades de certas coisas, enquanto
que a segunda é liberdade para algo
diferente. Apresentaremos brevemente a primeira e a terceira, depois, a
segunda.
A
verdadeira liberdade é a liberdade da necessidade de guardar a lei de Deus a
fim de obter-se a salvação. Esse é o tema principal da carta aos Gálatas e dos
capítulos 3 e 4 da carta aos Romanos. Essas ensinam que ninguém pode ser salvo
ou justificado diante de Deus pela observância da lei, visto que ninguém
consegue guardar a lei de Deus de modo perfeito; portanto, o único meio de
alguém ser justificado diante de Deus é por intermédio de Cristo, que obedeceu
a lei perfeitamente por nós (Gálatas 2.16; Romanos 3.28).
A
verdadeira liberdade é a liberdade com respeito às coisas exteriores que, em si
mesmas, são indiferentes. Ou seja, inclui a liberdade da escravidão às regras
no tocante a coisas que, em si mesmas, não são pecaminosas porque deus não as
ordena nem as proíbe; coisas que, embora possas parecer pecaminosas sob certas
circunstâncias, não são pecaminosas em si mesmas. São assuntos sobre os quais,
algumas vezes, igrejas elaboram regras e obrigam seus membros a observá-las
como prova de comunhão ou emblema de verdadeiro cristão (Gálatas 4.9-10; 5.2-6;
Colossenses 2.10-23). Falando sobre esse assunto, Calvino diz que no tocante a essa
parte da liberdade cristã “não estamos obrigados perante Deus por causa de
quaisquer convenções religiosas que ora nos oprimem e ora nos proíbem de fazer
uso delas, seja o que for”. Esse legalismo traz consigo dois perigos: o passar
a acreditar-se que a abstinência dessas “coisas indiferentes” seja a marca
essencial de um cristão; e a limitação ao crescimento da igreja por se formar
uma crosta dura e áspera ao redor do grupo aceito. Citando 1 Coríntios 10.23, Calvino
apresenta o verdadeiro uso da liberdade cristã, dizendo: “Nada é mais claro do
que esta regra: que devemos usar nossa liberdade se ela resulta na edificação
de nosso próximo, mas se ela não beneficia o nosso próximo, devemos, neste
caso, abrir mão dela”.
A
verdadeira liberdade é liberdade para obedecer a lei de Deus, por gratidão. Ou,
colocando de outro modo, a liberdade de fazer a vontade de Deus livre e
voluntariamente, como um modo de demonstrar gratidão a ele pela salvação. A
verdadeira liberdade não é apenas liberdade de,
mas também liberdade para. O salvo é
transportado para o reino do Filho de Deus, a fim de ser servo a serviço de seu
Rei (Romanos 6.12-13, 16-23; Colossenses 1.13). O salvo recebe o espírito de
adoção (Romanos 8.15), que o faz andar nos estatutos de Deus, guardar seus
juízos e observá-los (Ezequiel 36.26-27). Portanto, a verdadeira liberdade não
é contrária à lei de Deus. Ao contrário, a verdadeira liberdade consiste em
obedecer alegre, voluntária e gratamente a lei de Deus (Salmo 1.2; 19.10; Tiago
1.25; 2.12).
O Senhor, nosso Deus,
nos libertou em Cristo Jesus. Permaneçamos firmes nessa verdadeira liberdade, e
não a usemos para dar ocasião à natureza pecaminosa e nos colocarmos,
novamente, sob escravidão.
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