Não é raro ouvirmos pessoas dizerem que, uma vez que vivemos na era da graça não precisamos mais da lei. O que é uma falácia, pois embora as Escrituras de fato mostrem que não estamos mais sujeitos à lei cerimonial, elas também mostram que Deus estabeleceu, para todas as eras, um tríplice propósito para sua lei moral. João Calvino cristalizou essa tríplice função, de uma forma clássica, nos seguintes termos.
Seu
primeiro propósito é a de ser o espelho que reflete, para nós, a perfeita justiça
de Deus e a nossa própria pecaminosidade e deficiência. Como escreveu
Agostinho, “a lei nos obriga a saber como pedir o auxílio da graça, quando
tentamos cumprir suas exigências e nos cansamos na nossa fraqueza sob ela”. A
lei foi dada para nos transmitir conhecimento do pecado (Romanos 3.20; 4.15;
5.13; 7.7-11) e, mostrando a nossa necessidade de perdão e o perigo da
condenação, levar-nos a Cristo em arrependimento e fé (Gálatas 3.19-24).
Seu
segundo propósito – o uso civil – é o de refrear o mal. Embora a lei não possa
mudar o coração, ela pode, até certo ponto, inibir as desordens com ameaça de
julgamento, especialmente quando apoiada num código civil que aplica punição a
ofensas comprovadas (Deuteronômio 13.6-11; 19.16-21; Romanos 13.3-4). Desse
modo, ela assegura a ordem civil e serve para proteger os justos da ação dos
injustos.
Seu
terceiro propósito é o de guiar o regenerado às boas obras que Deus planejou
para ele (Efésios 2.10). A lei diz aos filhos de Deus o que agrada ao seu Pai celestial.
Ela pode ser chamada de código da família. Cristo fala desse terceiro propósito
quando diz que os que se tornam seus discípulos devem ser ensinados a fazer
tudo o que ele ordenou (Mateus 28.20), e que a obediência aos seus mandamentos
provará a realidade do amor que seus discípulos têm por ele (João 14.15).
O cristão está livre da lei como sistema e meio de salvação (Romanos
6.14; 7.4-6; 1 Coríntios 9.20; Gálatas 2.15-19; 3.25), está livre da lei
cerimonial (Hebreus 9.11-15; 10.1-18). Porém está “debaixo da lei de Cristo”,
como um sistema e regra de vida (1 Coríntios 9.21; Gálatas 6.2), um novo estilo
de vida caracterizado por amar a Deus acima de todo coração, alma e
entendimento, e ao próximo como a si mesmo (Mateus 22.37-40).
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