Escrevendo sua
Segunda Carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo diz àquela igreja que havia em
sua época “falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em
apóstolos de Cristo” (2 Coríntios 11.13). Eram pessoas que pareciam ser
discípulos de Cristo, mas que, na verdade, eram ministros de Satanás. Durante
algum tempo, a Igreja apostólica e primitiva teve que lidar com esses “falsos
apóstolos”; até que o título foi restringido aos Onze e a Paulo. Com isso, a
Igreja viu-se livre desses obreiros fraudulentos por vários séculos. Nos
últimos anos, no Brasil, foi ressuscitado o uso desse título por igrejas neopentecostais,
o que força a Igreja a lidar novamente com esse assunto. São, de fato, apóstolos
aqueles que assim se autodenominam? Há apóstolos hoje?
Para se
responder a essas perguntas, torna-se necessário, primeiramente, lembrar o
significado do termo “apóstolo”. No sentido literal, a palavra se refere a
alguém que é enviado, um emissário. No grego secular, era usada em referência a
um navio, uma esquadra ou uma expedição naval. No grego clássico havia uma
distinção entre mensageiro e apóstolo; o primeiro era apenas uma pessoa enviada
portando uma carta, a segunda era mais que um mensageiro, era um delegado ou
representante da pessoa que a enviou. No Judaísmo posterior, a palavra foi
usara para as pessoas enviadas pelo Sinédrio de Jerusalém para recolher o
imposto sagrada dos judeus da Diáspora. Essas pessoas eram enviadas aos pares,
eram agentes credenciados e tinham autoridade apenas para uma tarefa limitada.
No Novo
Testamento, o título foi aplicado por Jesus aos Doze, quando os enviou a
algumas cidades e vilas pelas quais ele mesmo passaria mais tarde (Mateus
10.1-4). A Igreja do período apostólico aplicou, inicialmente, esse título a
outras pessoas além dos Doze, por exemplo, a Tiago, o irmão do Senhor (Gálatas
1.19), a Barnabé (Atos 14.4); porém, com o tempo, esse título ficou restrito
aos Doze e a Paulo (ou aos Onze e a Paulo, há duas posições).
Fica claro,
pelo ensino do Novo Testamento, que havia algumas condições a serem preenchidas
para que o título de apóstolo fosse atribuído a alguém. As condições são: a)
ser testemunha ocular da vida terrena de Jesus (Atos 1.21-22); b) ser
testemunha ocular da ressurreição de Jesus (Atos 1.22); e c) ser comissionado e
enviado pessoalmente por Jesus (Mateus 10.1-5). É fato que o termo apóstolo
aparece na lista de ofícios dados pelo Senhor para o governo da sua Igreja pela
Palavra (Efésios 4.11-16); igualmente é fato que em 1 Coríntios 12.28 o terno
não se refere a um dom contemporâneo de apostolado, mas sim ao ofício
registrado em Efésios 4. O Novo Testamento deixa claro que estes Doze, e
somente estes, são considerados, juntamente com os profetas, o “fundamento” da
fé (Efésios 2.20; Apocalipse 21.14), isto é, foram concedidos por Deus, como
instrumentos da revelação, para estabelecer e alicerçar a Igreja. Ensina,
ainda, que apóstolos, profetas e evangelistas foram ofícios extraordinários, e,
portanto, temporários.
Desse modo, chega-se à conclusão de que atualmente
não há apóstolos; a Igreja é governada por pastores e mestres – seus
presbíteros docentes e regentes –, sendo o ofício do presbiterato ordinário e
permanente. Não cabe, portanto, o uso do título de apóstolo a nenhum líder
religioso atual. Pois a sã interpretação das Escrituras ensina que Deus
concedeu o presbiterato (pastores e presbíteros) para o governo e pastoreio; e
o diaconato (diáconos) para o cuidado dos enfermos e necessitados, e manutenção
da ordem do culto.
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